Vamos ser sinceros. Já ficou cansativa essa discussão
do que é certo ou errado na estética dentária. Aliás, precisamos ter sensibilidade para o problema, pois podemos desconcertar ou até ofender seriamente uma pessoa ao dizer para ela como são feios e artificiais (?) os dentes “cor de louça” que tanto deseja (ou pior, que já possui). Em verdade, não há o que realmente possamos chamar de estética, somente achismos e opiniões, cujas preferências de cada um ditam a beleza a seus próprios
olhos, de forma íntima e pessoal.
A palavra “estética” tem sua origem no francês, esthétique,
que, por sua vez, ascende da palavra grega aisthêtiké,
que significa “apreensão pelos sentidos” ou “o que pode ser
compreendido pelos sentidos”. Portanto, é uma forma de perceber, conhecer, entender e apreender o mundo e suas coisas através dos cinco sentidos: visão, audição, paladar, olfato e tato.
Imagine um lugar onde todos os homens e mulheres são
fortes, bonitos e inteligentes. Pois bem, esse lugar fictício foi
imaginado pelo escritor Garrison Keillor em seu romance “Lake Wobegon Days”.1 Numa cidade chamada Lago Wobegon, todas as pessoas estão acima da média e, por conta dessa característica, dá-se nome a um viés cognitivo* conhecido como “efeito do lago Wobegon”, que consiste em superestimar as habilidades positivas, desconsiderando as características negativas.
2 de maio de 2020. Faz 44 dias que estou em isolamento
social. A quarentena em Maringá, no norte do Paraná, onde resido, foi decretada no dia 20 de março, com toque de recolher entre 21h e 6h. Poderia dizer que, quando a história se encarrega de fazer um roteiro, o faz maravilhosamente bem. Deixe-me contextualizar.
Como podemos diferenciar aquilo que é biologicamente
determinado daquilo que as pessoas apenas tentam justificar
por meio de mitos biológicos? Essa é uma das tantas perguntas instigantes e apimentadas de Yuval Noah Harari, um dos maiores pensadores da nossa época. Essa é uma daquelas perguntas enigmáticas, que trazem à tona grandes questões do homo animal e do sapiens pensante. Um bom exemplo é a confusão entre sexo e gênero.
Deixamos de ser uma sociedade de consumo em massa – tal como existia durante o boom do pós-guerra da década de trinta do século passado – para ser uma sociedade de hiperconsumo. A ascensão de marcas, símbolos, ícones e ídolos é o indicador mais óbvio desse fenômeno. A era do hiperconsumo se distingue pela modificação descontrolada do nosso tempo e espaço, especialmente caracterizada pela expansão constante do mundo digital paralelo.
Imagine centenas de anos atrás, quando um ancestral
nosso, mulher ou homem, em um dos muitos momentos de
ócio, pegou algumas pedras e, de forma lúdica, colocou-as
lado a lado. Provavelmente as ordenou em uma disposição
de proporção do centro para os extremos ou vice-versa. Teria feito aí, nesse momento, o primeiro gesto no desenvolvimento da forma e da arte.
Sempre me sinto confuso e às vezes impotente diante de
perguntas e anseios a respeito de carreira, em especial quando vêm de uma pessoa experiente, com mais de 25 anos de serviço. Na verdade, você não está sozinho, parado na estação, com a sensação de o trem estar passando. Realmente, muitos profissionais se encontram nessa posição quando o assunto é tecnologia.
Começar um texto dizendo que vivemos na era da informação já virou clichê. Todo o mundo, todo o tempo, em casa, na escola, no serviço, no restaurante, no banheiro, nas ruas, em qualquer lugar, conectado através desses pequenos supercomputadores de bolso, que todos nós carregamos constantemente conosco, fornecendo todo tipo de informação. Em nenhum outro tempo a informação esteve tão acessível. Estar informado passou a depender apenas de quanto você quer se dedicar a isso.
Observe: se eu largar um objeto e ele cair, usaremos a lei da gravidade de Newton para explicar tal fato. Ao contrário, se o objeto for feito de algum material leve e cheio de gás, poderia, em vez de cair, subir como um balão, o que pode ser explicado pela lei da flutuação dos corpos, descrita por Arquimedes – aquele que correu nu pelas ruas de Siracusa gritando “eureca!” (encontrei!). Na ciência, tentamos explicar os eventos sempre nos referindo a leis, regras e circunstâncias que possamos provar como verdadeiras. Entretanto, diferentemente dos cientistas e pesquisadores, nós clínicos somos menos afortunados na busca das verdades que ocorrem no dia a dia.
O que melhor nos caracteriza, o ódio ou o amor? O que é mais crucial para a sobrevivência, a competição ou a cooperação? Essas perguntas estão no livro de Frans de Wall “Eu Primata” (Companhia das Letras, 2007) e tentam ser respondidas a partir da visão de um antropólogo. Entretanto, buscar respostas a essas perguntas significa focar a partir de um único ponto de vista, que geralmente será o mais favorável e vantajoso em determinado momento ou situação.
Que a odontologia é ofício dos mais belos e gratificantes todos sabemos. Dentistas, em geral, são apaixonados pela profissão e trabalham ciência e arte na (re)estruturação do sorriso, simplesmente a mais bela entre as expressões humanas. Entretanto, todo dentista sabe – ou sente? – os “ossos do ofício”. Com destacada necessidade de precisão, a odontologia é arte de minúcias carregada de anseios e expectativas. É feita em campo escuro, sombrio, confinado, apertado, desajeitado, úmido, vivo e com partes móveis por demais, trabalhando à queima-roupa, numa intimidade entre mão e boca, numa proximidade entre dentista e paciente. Não à toa, portanto, a odontologia está ranqueada entre as vinte profissões mais estressantes.
Na ciência tentamos esclarecer os eventos e problemas referindo-nos a leis gerais que determinam tal condição ou ação, tentando eliminar explicações equivocadas como, digamos, magia negra ou o fato do ocorrido ter acontecido em uma sexta-feira 13 com o paciente mais “chato” que temos na agenda. Por exemplo, se eu confeccionar uma coroa total de cerâmica pura em um molar e, porventura, ela fraturar, a primeira correlação pode ser com o material utilizado.
Quando se pensa em odontologia restauradora, pensa-se sempre em funcionalidade. As estruturas dentárias, o aparato periodontal e todos os órgãos que compõem o sistema estomatognático estão concebidos para o eficiente exercício das funções, em especial a mastigação. Entretanto, embora a preocupação com a funcionalidade seja a mais evidente, é certo que não deve ser a única.
Um dia você acorda e lembra – tem que se lembrar – de tudo o que já passou. Que exatamente neste momento somos a soma de tudo o que fizemos e experimentamos em nossa vida. E aí, como diz o sensacional Mario Quintana*, um dia você aprende sobre a dualidade e a verdade das coisas.
Imagine centenas de anos atrás, quando um ancestral nosso, mulher ou homem primitivo, pegou algumas pedras e, de forma lúdica, colocou-as lado a lado. Ao observá-las, provavelmente ordenou- as em uma disposição de proporção do centro aos extremos ou vice-versa. Teria feito aí, nesse momento, o primeiro gesto no desenvolvimento da forma e da arte.
Imagine um dentista (eu ou você) abduzido há dez anos (2006) e, de repente, devolvido hoje (2016). Frente a um primeiro impacto, confuso pelas mudanças políticas e econômicas, surpreso com os avanços tecnológicos, maravilhado com o touchscreen de um iPhone e atordoado com a rapidez de um Facebook (tecnologias lançadas em 2007), tentaria pouco a pouco voltar ao cotidiano. Prostrado diante um catálogo de produtos odontológicos, provável, ficaria encantado com os novos materiais e tecnologias e suas possibilidades, entretanto, logo entenderia que, para cada produto novo, mudanças fundamentais na técnica e na forma de pensar ocorreram.
William Shakespeare, em sua peça “As you like it”, nos apresenta de forma densa as várias fases da vida humana. Na última cena, a velhice, é a segunda infância e mais dúvidas, sem dentes, sem olhos, sem gosto, sem nada. Nessa frase Shakespeare transparece em diferentes analogias a realidade de seu tempo, e a associação velhice sem dentes é clara.
Na verdade, a procura por um padrão de beleza universal remonta a Pitágoras e Platão, com ideais matemáticos da beleza, passando pela renascença, com Dürer, Leonardo da Vinci e outros artistas e filósofos, até os tempos atuais, sempre na tentativa de entendê-la e proporcioná-la.
Um dos mais discutidos erros na avaliação de desempenho de pessoas e coisas é o célebre “Efeito Halo”, que pode ser entendido em psicologia como sendo a possibilidade de que a avaliação positiva de uma parte resulte numa avaliação positiva do todo. O termo foi cunhado, em 1920, pelo psicólogo norte- -americano Edward Thorndike, em plena Primeira Guerra Mundial. Em uma série de experimentos psicológicos junto ao exército de seu país, com o intuito de estudar os métodos de avaliação de desempenho utilizados pelos comandantes de pelotão, Thorndike chegou a resultados no mínimo reveladores.
Será esta uma aspiração natural ou apenas um anseio incessante? Afinal, sabemos que todos os povos em todas as épocas tentaram definir o que é felicidade e alimentaram a ilusão de alcançá-la. Se fosse possível designar um denominador comum que caracteriza as pessoas, não haveria dúvida: alguns são prepotentes, outros são submissos; alguns são tímidos, outros agressivos; alguns são desleixados, outros hiperorganizados; alguns são laicos, outros fundamentalistas; alguns querem a modernidade, outros são tradicionalistas. Mas todas as pessoas do mundo – incluindo eu e você – querem a felicidade.
A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por essa razão, é um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de consciência moral, e constantemente avalia e julga suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas.
“Não tentaremos dar ao leitor uma ideia desse nariz tetraédrico, dessa boca recurva como uma ferradura; desse pequenino olho esquerdo obstruído por uma sobrancelha ruiva e áspera como tojo, enquanto o olho direito desaparecia completamente sob a enorme verruga, dessa dentadura desordenada, aqui e além brechada, como as ameias de um forte; desse lábio caloso…”
Faço este preâmbulo para poder discutir e entender o fenômeno “lentes de contato” dentárias. Amplamente citado na literatura, em congressos, em cursos e, especialmente, na mídia não especializada, passou a ser mote de calorosos debates e discussões, que incita de forma divertida o amor e o ódio de professores, dentistas e “marqueteiros” de plantão.
A construção de modelos e soluções inspirados na natureza é conhecido como biomimética, direcionando criações altamente funcionais, que vão de maiôs de natação de baixo atrito com a água que imitam a pele de tubarão a braços biônicos multiarticulados, com o design da tromba de um elefante.
E: Charles, você não acha que tem exagerado com essa coisa de estética?
C: De forma alguma, Edward, estou resgatando algo que especialmente vocês “oclusionistas” colocaram em um plano inferior e sem importância.
E: Não é bem assim, Charles. Apenas colocamos as coisas na ordem correta…
Estive na Bahia há alguns dias, na casa de grandes amigos – baianos daqueles arretados e descolados. De lá veio minha inspiração para esta coluna: sentados, na beira da praia, vendo o pôr do sol gostoso e preguiçoso, como tem de ser na Bahia, em um céu pintado em gradiente de azul, laranja e vermelho.
Faço esse preâmbulo para chamar atenção para a essência artesanal da odontologia.
Antes, saliento: sei que praticamos uma ciência. Sei que, para realizar a excelência, é necessário grande conhecimento técnico-científico. Entretanto, lembro que, ao realizar a prática odontológica, sua essência está intimamente ligada à habilidade e paixão do dentista como artesão.
É evidente que o julgamento de padrões estéticos será sempre subjetivo, e a imposição de um padrão de beleza será sempre autoritária. Dessa forma, tentarei, nesta e nas próximas colunas que completam o ano, escrever sobre o assunto, a partir de meu ponto de vista, tentando buscar algum grau de consenso que possa existir em relação à beleza dos elementos dentários e sua composição com o entorno facial.
É evidente que o julgamento de padrões estéticos será sempre subjetivo, e a imposição de um padrão de beleza será sempre autoritária. Dessa forma, tentarei, nesta e nas próximas colunas que completam o ano, escrever sobre o assunto, a partir de meu ponto de vista, tentando buscar algum grau de consenso que possa existir em relação à beleza dos elementos dentários e sua composição com o entorno facial.
É evidente que o julgamento de padrões estéticos será sempre subjetivo, e a imposição de um padrão de beleza será sempre autoritária. Dessa forma, tentarei, nesta e nas próximas colunas que completam o ano, escrever sobre o assunto, a partir de meu ponto de vista, tentando buscar algum grau de consenso que possa existir em relação à beleza dos elementos dentários e sua composição com o entorno facial.
O segredo de um bom preparo não é primordialmente habilidade, mas conhecimento, dedicação, persistência e manter-se atento a algumas regras simples, associados à evolução dos materiais restauradores. Cada clínico tem seus padrões e truques de trabalho. Após um pouco mais de três anos, revisei alguns dos meus, e espero que sejam úteis para você também.
Quis compartilhar essa experiência porque ali, no Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba, pude refletir muito sobre minha conduta profissional. Talvez eu tenha estado muito tempo apaixonado pelas restaurações, o suficiente para não enxergar com clareza a pessoa atrás do dente, seus anseios, medos e reais necessidades.